sauda,

Era 1:25 da manha e eu chorava. Meu rosto molhado como se eu tivesse acabado de lavar. Não consigo enxugar. Meu soluço tentando dizer “quero voltar”, o ônibus seguindo caminho contrário. Cinco minutos parece horas, e não chego a me perguntar se tudo isso vale a pena, porque eu já tenho certeza que vale. Vale ao ver seu sorriso bobo quando começo a dançar engraçado, vale muito apena ao beijar seu rosto inteiro enquanto sorrio, tudo isso faz sentido quando você me abraça forte e diz que me ama. Eu já não me chamo Alyne, sou patarinho, minha vida e sou morzão. Quero ir muito mais além das dez horas de insonia ansiosa.

não me pergunta o porque,

Um amigo lhe conta; conheci uma pessoa. Imediatamente a gente quer saber algo sobre ela; como ela é?, o que ela faz?, qual é seu nome?. Sendo que o principal a se perguntar é; você está feliz?.

o que você vê que eu não vejo?

Sou grossa Tenho medo Sou insensível Fico mau humorada quando tenho fome Ignoro pelo simples fato de não ter que lidar com brigas Sou bagunceira Esquecida Tenho déficit de atenção Sou orgulhosa Falo demais quando não deve Grito Falo palavrão Não tenho uma religião definida Gasto mais do que tenho Tenho nojo de lavar panela Tiro sarro de algumas pessoas Não devolvo troco errado quando vem à mais Sou preguiçosa Sou desligada As vezes gosto de ficar comigo mesma Sou teimosa Eu me arrisco Durmo enquanto converso no celular Presto atenção nas pessoas no ônibus Não sei muito bem expressar meus sentimentos Sou impaciente Não faço as coisas quando sou obrigada a fazer Não gosto quando mexem no meu cabelo Gosto de ver acidentes Se estou cansada, não dou meu lugar no ônibus Não costumo lavar meus tênis Não sei cozinhar Não gosto de fazer exercícios As vezes prefiro não falar Não gosto de emprestar as minhas coisas Respondo a minha mãe quando acho que estou na razão O que te atrai em mim?

reencontrando papai Olivaldo,

Mamãe, com quem você tá falando? Você tá louca, ele morreu há 20 anos. Sabe porque eu estou aqui hoje? Me separei do meu marido, eu gosto de outra pessoa, do Pedro, sim, o meu irmão, há muito tempo, desde que eramos crianças eu olho ele de uma maneira diferente. Quando tínhamos 14 anos, o que você acha que a gente fazia juntos um no quarto do outro? Não era só coisa de mero irmãos, a gente se amava, e agora não temos mais medo de esconder isso. Você sabe que o pai não te amava, que tinha várias outras mulheres, e tenho certeza que foi por isso que você matou ele, mesmo você dizendo que não, eu imagino sim que foi crime passional. Todas as coisas que ele comprava, ele gastava e deixava as contas para você apagar, e você levava numa boa, até tempos atras; ele morreu, você ainda não percebe? Enquanto você fica aí, jogada entre os papéis de carta e documentos velhos, tentando reviver o que está morto há 20 anos, fumando como uma viciada, porque quem fala e fuma sozinha, não merece nenhum respeito, a gente procura botar um ponto final nessa história. Se a luz não esta paga e você se envolve à velas, pelos últimos 5 anos, não é esse barrigudo, escroto com a barba a fazer quem te deixou à isso, foi você mesma. Não me importa se Pedro e eu somos irmãos ou meio irmãos, não nos convém, você sabe que foi traída e não vai nos fazer a mínima diferença quando na cama deitarmos. As velas vão se apagar, e no escuro você não verá o caminho para seguir.

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Talvez eu tenha perdido tudo que um dia eu não quis perder. As vezes eu não acredito em mim mesma. Mas eu estou feliz.